Seminário sobre racismo no trabalho realizado pelo MPT-SP reúne entidades do movimento negro

09 de novembro de 17, São Paulo – Na tarde desta última quarta-feira, o Ministério Público do Trabalho em São Paulo realizou em sua sede evento para debater preconceito racial sofrido pelos negros nos âmbitos profissionais e promover ações em prol da igualdade racial nesse meio.

O seminário “Racismo no Mundo do Trabalho” foi aberto pelo procurador-chefe em exercício do MPT-SP Wiliam Bedone, pela coordenadora nacional da Coordigualdade (Coordenadoria de Promoção de Igualdade de Oportunidade e Eliminação da Discriminação no Trabalho) Valdirene de Assis e por Thaís Dumêt Faria, oficial técnica em princípios e direitos fundamentais no trabalho da OIT (Organização Internacional do Trabalho).
Wiliam ressaltou a importância de se falar sobre o racismo nas instituições e empresas, especialmente no Brasil. “No país, há uma recusa em abordar o tema, como se fosse inexistente”, afirmou.

Valdirene de Assis sublinhou o desequilíbrio que os negros enfrentam para entrar e permanecer no mercado de trabalho. “Temos componentes dentro da nossa estrutura social que dificultam o acesso do negro a determinados postos de trabalho e implicam diferença na remuneração dos profissionais negros”, exemplificou. O racismo estrutural, permeado pelo preconceito, cria um julgamento prévio e um estigma sobre a pessoa, antes de mais nada.
 “A cada 5 minutos, morre um jovem negro assassinado no Brasil. Enquanto estamos aqui falando, muito estão morrendo”, lembrou Thaís, reforçando com dados a urgência do debate. “Falar de racismo é promover justiça social e diminuição da pobreza. E não se reduz a pobreza sem falar de desigualdade social”.

A Questão Racial no Trabalho


A primeira mesa do seminário deu início ao debate sobre “A questão racial no trabalho”, que contou a participação de Cleber Santos Vieira, professor da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e Membro da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros. Ele apresentou uma perspectiva histórica sobre a discriminação racial no trabalho, afirmando que o passado de escravidão no Brasil é um dos principais fatores para que esse tipo de preconceito ainda ocorra tão fortemente.
Neiva Santos, secretária Geral do Sindicato dos Bancários de São Paulo e também participante da mesa, apresentou censos gráficos de 2008 a 2014 sobre o setor bancário e apontou resultados positivos nos indicadores de rendimento e oportunidades em relação a diferença racial especificamente neste setor. Este progresso foi justificado por conta dos incentivos às campanhas para conscientizar os bancos sobre a desigualdade racial presente na remuneração e acesso nos cargos bancários.

“Vivemos momentos difíceis em meio aos discursos de ódio, e os debates sobre raça e gênero acabam sendo mal vistos e mal interpretados. Mas no setor privado estamos fortes para conscientizar a importância destas questões”, comentou a secretária.

 

Finalizando a primeira mesa, Samuel Emílio, coordenador de projetos da EDUCAFRO, em sua fala, questionou a estrutura das políticas de educação pela ausência do Estado e a capacitação dos jovens de periferias – áreas predominadas por negros –, além de ressaltar as conquistas que EDUCAFRO tem alcançado ao atingir a marca de 80 mil alunos amparados.
“Não tem como discutir a inserção (dos negros) ao trabalho sem falar de ações e políticas afirmativas, que são a única forma de fazer com que a nossa comunidade”, afirmou Samuel, que concluiu com um alerta sobre a saúde mental dos estudantes que vêm sofrendo transtornos causados pela impotência do sistema educacional.

Racismo Institucionalizado


A segunda mesa abordou o racismo presente nas instituições administrativas. Mylene Pereira Ramos, Juíza do Trabalho do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região de São Paulo,  vídeo do governo do estado do Paraná  sobre preconceito racial de profissionais de RH (o vídeo pode ser acessado aqui: https://www.youtube.com/watch?v=SRLyQq7VMI8). “O racismo institucional só foi tipificado em 1999, nos Estados Unidos”, afirmou a juíza ao reforçar a ideia de que o combate ao problema é muito recente.

Carmem Dora Freitas, presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB-SP, relatou experiências pessoais de discriminação enquanto realizava seu trabalho de advocacia nos tribunais. “Dentro do poder judiciário a mulher negra é duplamente penalizada”, diz. “Acham que mulher negra não pode ser advogada”.  

Eduardo Ferreira Valério, promotor de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo, ao falar sobre a presença do racismo na sociedade, pergunta-se “Até que ponto os homens, brancos e héteros sabem que são privilegiados?”. Para ele a visão preconceituosa é tão arraigada que quando é contraposta causa reações de surpresa e até de raiva. Ele apresentou iniciativas para combater o racismo dentro do Ministério Público do Estado de São Paulo, e dos outros MPs, antes de mais nada. “O MP não pode atuar contra o racismo na sociedade sem antes combater o racismo institucional”.

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