Projeto do MPT e da Unicamp leva à São Paulo Fashion Week coleção produzida por transexuais e refugiados
São Paulo, 02 de junho de 2022 - Por meio da iniciativa Faces e Sustentabilidade, 20 pessoas em situação de vulnerabilidade social realizaram curso de crochê entre março e maio deste ano e tiveram a oportunidade de mostrar seu trabalho no desfile
A 53ª edição da São Paulo Fashion Week realizou, na noite da última quarta-feira (1º), desfile com coleção de 25 looks criados por 20 alunas e alunos de curso de crochê para a população trans e refugiada. A capacitação integra o projeto Faces e Sustentabilidade, iniciativa do Ministério Público do Trabalho em São Paulo (MPT-SP) em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), por meio do Núcleo de Estudos de População "Elza Berquó" (Nepo).
Entre os meses de março e maio, o projeto promoveu oficinas de capacitação profissional ministradas pela Escola Ponto Firme, que desde 2015 oferece formação técnica em crochê para sentenciados. “Usar o trabalho decente como um resgate de pessoas em situações socialmente vulneráveis é a proposta do Faces e Sustentabilidade”, explica o procurador do Trabalho Gustavo Accioly, que concebeu o projeto e organizou as oficinas. “O trabalho é a maior ferramenta de emancipação e de inclusão social. Grupos historicamente vulneráveis, vítimas de marginalização social, sofrem uma sobreposição de carências sociais e estão muito mais propensos à exploração humana. É dever de todos assegurar a esses grupos um trabalho digno rompendo o ciclo da vulnerabilidade social e da invisibilidade”, acrescenta Accioly.
As participantes e os participantes das oficinas tiveram aulas com o estilista Gustavo Silvestre, idealizador do projeto Ponto Firme, e as peças criadas por eles foram trabalhadas pela Relações Públicas Marina Morena, que apresentou os looks e o projeto à fashionistas, influenciadores e pessoas da mídia. Como conta Silvestre, “ao ver o talento dos participantes, despertamos para a possibilidade de potencializá-los. Projetos como esses não vêm à tona e o desfile funciona para isso. A gente quer dar visibilidade para essas causas", continua.
As peças criadas pelo grupo serão leiloadas e os recursos serão revertidos aos criadores.
Iniciativa – O projeto Faces e Sustentabilidade surgiu em São Paulo com o intuito de conectar processos interdisciplinares e proporcionar a capacitação para o trabalho decente para populações em situação de vulnerabilidade social e que já estiveram em situação de exploração humana tais como trabalho escravo sexual, tráfico de pessoas, xenofobia, discriminação.
A iniciativa deve continuar com a capacitação de novas turmas. Gustavo Accioly reforça a importância de pensar moda e sustentabilidade também a partir da perspectiva dos direitos humanos e acesso ao trabalho digno. "As pessoas acham que 'moda sustentável' é apenas aquela que recicla, mas não só. Claro que o meio ambiente faz parte, mas a gente não pode esquecer do ambiente social e do trabalho", completa.